Cigarrinha-do-milho: um problema complexo requer soluções integradas e regionalizadas 

Nos últimos anos, a intensificação dos prejuízos causados pelo complexo de enfezamentos do milho (CSC), incluindo sua expansão para regiões temperadas do sul do Brasil e da Argentina, tem colocado em alerta toda a cadeia produtiva desse cereal. Mudanças climáticas e alterações nos sistemas de produção têm favorecido a multiplicação e a sobrevivência da cigarrinha-do-milho (inseto vetor do CSC) e de plantas sintomáticas (fontes de inóculo) ao longo da paisagem agrícola através de uma “ponte verde” contínua ao longo de todo o ano.

Em virtude da grande versatilidade de cultivo e finalidade, a milhocultura é praticada em diferentes condições ambientais e em distintos sistemas e escalas de cultivo no Brasil. Consequentemente, a dessincronização da semeadura, as diferenças nos níveis tecnológicos e de investimentos aplicados nas lavouras e o acesso a ferramentas de manejo (incluindo genótipos tolerantes e maquinaria disponível para o manejo fitossanitário) constituem em um dos principais desafios para a implementação de estratégias de manejo a nível regional da cigarrinha-do-milho e do CSC. Além disso, esse inseto caracteriza-se pela alta capacidade de dispersão, o que leva a constantes reinfestações das lavouras manejadas e, consequentemente, a necessidade de aumentar consideravelmente o número de aplicações de inseticidas na pós-emergência da cultura, ampliando os custos de produção e comprometendo o equilíbrio biológico dos agroecossistemas. Como consequência, publicação recente reporta a ocorrência de populações de cigarrinha-do-milho resistente aos principais grupos de inseticidas disponíveis no Brasil.

Diante desse contexto, avanços na compreensão deste patossistema, na conscientização dos agricultores quanto à adoção de boas práticas culturais (p. ex.: eliminação de milho voluntário na entressafra), o estabelecimento de programas regionais de monitoramento do inseto vetor e de sua infectividade, o avanço no desenvolvimento de genótipos tolerantes e de estratégias de manejo integradas têm permitido conviver com o problema e obter, novamente, altas produtividades. Contudo, esse panorama reafirmou uma velha lição: não existem soluções simplificadas para problemas complexos! Além de gerar uma grande demanda de novos estudos, produtos e tecnologias, esse patossistema tem exigido (“na marra!”) a aplicação dos esquecidos preceitos do manejo integrado de pragas (MIP) em um contexto regionalizado.

Eng.-Agr. Dr. Leandro do Prado Ribeiro

Pesquisador em Entomologia – EPAGRI

Eng.-Agr. M.Sc. Matheus Rakes

Doutorando em Fitossanidade – UFPel

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